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A Secretaria - Capitulo 28 (3.5)


CAPÍTULO 28. 3 HORAS ANTES


Demi Lovato narrando:


Joe estava pressionado atrás de mim, suas mãos frias correndo lentamente pela pele nua de meu estômago. A maneira que ele estava me tocando lembrava um curador em um museu testando a superfície de uma escultura de mármore, reverente e gentil, como se ele soubesse que tinha pouco tempo para sua obra de arte, e quisesse memorizá-la o quanto pudesse. O seu toque era de tal leveza, que poderia parecer clínico se não fosse a sensação da sua respiração em meu pescoço, lenta, porém instável, o que revelava a sua excitação.

− Nós encontraremos uma solução. – sussurrei para acalmá-lo, encarando as luzes bruxuleantes no horizonte de Manhattan através da parede de vidro do seu quarto.

Não obtive nenhuma resposta, a não ser o aumento da pressão de suas mãos em mim, roçando meus seios nus e minha calcinha. Sua respiração se acelerou conforme ele tocava minha pele com mais força. Agora, a maneira com que ele me tocava lembrava um aficionado por carros correndo suas mãos sobre o capô de um Mustang em algum show-room, totalmente ardente e fugaz, como se ele não quisesse nada além de ser meu dono, mas soubesse que isto nunca iria acontecer.
− Eu quero resolver isso, Joe. – eu disse com um pouco mais de firmeza, mas ainda covarde demais para virar minha cabeça para o lado e ver seu rosto e a sua reação.

Toda a confiança que tive depois do jantar tinha desaparecido. Ouvi sua respiração falhar um segundo antes de minhas calcinhas serem puxadas bruscamente pelas minhas pernas.

− Você quer? – ele me perguntou em um tom cínico, mas morto, e então, com mais vigor, disse – Tire-as. – terminei de tirar minhas calcinhas, as chutando para o lado enquanto sentia o corpo completamente vestido de Joe me pressionando contra o vidro frio.
− Sim. – falei determinada, tentando ignorar a forma como suas mãos estavam esfregando a parte superior de minhas coxas ou a sensação persistente dele forçando a base das minhas costas. – Victor é um idiota, e qualquer coisa que ele insinua sobre o relacionamento meu e dele é totalmente errado. Ele só estava agindo daquela maneira hoje à noite porque... – deixei a frase no ar, não querendo completar a linha de pensamento (especialmente considerando que Joe já estava pronto para arrebentar a cara de Victor), mas ele terminou a frase por mim.
− Porque ele é apaixonado por você. – Joe sussurrou em uma voz inflexível, rindo friamente enquanto me girava.
Antes que eu tivesse tempo até mesmo para piscar, minhas pernas foram enroladas em sua cintura e minhas costas estavam contra o vidro. Ele afundou seu rosto entre meus seios, respirando com dificuldade e evitando olhar para mim.

− E quem não é? – Joe acrescentou num tom baixo, quase como se não fosse sua intenção que eu ouvisse.

Enquanto ele falava, corria seu nariz de um lado para outro do meu mamilo, me fazendo enterrar minhas mãos automaticamente em seus cabelos, sabendo que ele iria se afastar cedo demais. Desde quarta-feira à noite, quando eu tinha vendado Joe e o amarrado à sua cama, ele tinha me feito implorar até ficar rouca pela minha libertação. Haviam sido três dias mágicos. Era sábado agora, o quarto dia desde que eu tinha visto a imagem perfeita de um Joe, literalmente, untado à minha disposição, e eu tinha a sensação de que depois do jantar que tivemos com Victor mais cedo, eu ainda estaria pagando em orgasmos.

− Ouça, Joe. – comecei com raiva, já perdendo a paciência. Puxei seus cabelos com bastante força, e ele ergueu sua cabeça para me encarar.

Se eu estivesse sobre meus próprios pés, teria vacilado quando seus olhos encontraram os meus. Era como se toda a emoção que ele não deixou transparecer em sua voz estivesse presa em seus olhos esverdeados. A intensidade daquilo me fez baixar meus olhos para o seu pescoço, evitando a crueza do seu olhar penetrante.
− Eu estou disposta a sentar e conversar sobre Londres. – falei para o seu pomo-de-Adão, minha voz mais nervosa do que temperamental desta vez – Você, por outro lado, está agindo com uma criança, que acha que se tampar os ouvidos e ficar todo “lálálálá” o problema vai se resolver sozinho.
− É isso o que você acha que eu estou fazendo? – Joe inclinou sua cabeça, de modo que sua testa estava pressionada contra a minha e não havia como escapar do seu olhar. – A única mulher que eu já amei está deixando o país em 24 dias com o único outro homem que já a tocou! Eu não sou capaz de pensar em mais nada, muito menos capaz de evitar pensar nisso!

Enquanto rosnava, Joe estava caminhando até a cama comigo ainda enroscada em seu peito. Minhas costas atingiram o colchão e senti o peso de um homem determinado cobrindo meu corpo. Aquilo deveria ter me incomodado, assim como a verdadeira bagunça que a minha vida tinha se transformado deveria ter me preocupado, mas eu só conseguia pensar em uma coisa. Ele me ama.
3 horas antes:

O sorriso de Joe era tão grande que a nossa garçonete tropeçou nos próprios pés e a bandeja vazia foi parar em outra mesa. E olha que ele não estava mirando aqueles dentes sedutores pra ela, eu era a vítima.

− Cruzes, Joe. – rolei meus olhos para ele – Será que você poderia maneirar um pouco? Você está deixando a nossa garçonete tonta.

Joe jogou o peso do seu braço em volta dos meus ombros, se inclinando para poder sussurrar no meu ouvido. Nós dois estávamos sentados no mesmo lado da cabine na lanchonete da Universidade, onde encontraríamos Victor Symon. Ainda era cedo, mas os fregueses já estavam começando a chegar.

− Eu deixo você tonta? – ele perguntou com uma voz curiosa e pretensiosa, já conhecendo a resposta só pelas nossas aventuras matinais.

Joe e eu estávamos agindo como coelhos, ou ratos, ou qualquer ouro animal que pratique muito, muito sexo. Eu estava ficando preocupada sobre desenvolver alguma UTI, mas tenho certeza de que as pessoas só pegavam essa doença porque elas não eram capazes de parar, assim como eu definitivamente não estava sendo capaz de parar. Especialmente desde que meu namorado havia declarado esta manhã como "Manhã de Sábado Para Ver Quantas Vezes Consigo Fazer Demi Gozar Sem a Real Penetração." Quando ele teve esta ideia no jantar de quarta-feira, o psicopata me fez marcar na sua agenda sob o título "M.S.P.V.Q.V.C.F.A.G.S.R.P."

− Você sabe perfeitamente bem que me deixa zonza. – falei arrogantemente para Joe e me aconchegando em seu braço, então eu não teria de ver o olhar presunçosamente vitorioso na sua cara. Como que para ilustrar isto, ele tinha realmente me feito perder tanto os sentidos hoje, que pela hora do almoço eu já estava o atacando igual a um coiote e exigindo... bem, a real penetração.
− Hmm. – Joe concordou, inclinando a cabeça de forma que ele conseguisse sugar o chupão roxo que havia em meu pescoço.

Eu não tinha dúvidas de que ele havia feito aquelas marcas deliberadamente, sabendo que iríamos encontrar Victor hoje e que eu não poderia reclamar, considerando a quantidade de marcas que ele tinha da minha brincadeirinha de quarta à noite. Não que ele se importasse com elas, na verdade, eu tinha visto aquilo como prova física de que elas o faziam incrivelmente feliz, especialmente aquela sobre seu coração.

− Por que você não me diz o quanto eu te deixo zonza? Ou, melhor ainda, quantas vezes eu te deixei mole hoje, querida? – Joe sorriu para mim quando ele voltou da visitinha ao meu pescoço. Pra ser sincera, ele estava rindo feito um idiota presunçoso desde o quinto orgasmo.
− Por que nós não conversamos sobre o Victor? – perguntei incisivamente. Não porque este era um assunto que eu queria abordar, particularmente, mas porque o número de "amolecimentos" era embaraçosamente alto, e porque nós provavelmente precisávamos falar sobre Victor antes que ele chegasse.
Eu tinha concordado em encontrá-lo no Bar 'n' Grill, o velho restaurante favorito da turma da faculdade, e tinha tentado deixar absolutamente claro com o meu tratamento frio, todo não-me-toque ao telefone, que esta era uma missão de negócios. E ainda disse a ele que estaria levando meu namorado junto. Joe e eu tínhamos chegado um pouco mais cedo para bebermos alguma coisa e marcarmos nosso território antes que Victor aparecesse ali.

− Ótimo, vamos falar sobre o querido Victor. – Joe grunhiu, tomando um gole da sua cerveja e oferecendo meu copo intocado para mim. O sorriso havia abandonado completamente seu rosto e eu tinha a impressão de que ele tinha estado evitando pensar sobre tudo aquilo.
− Certo, então. – eu disse fracamente, nem um pouco contente com a mudança de assunto, pois esta parecia ser a hora da confissão. – Então, eu contei pra você que nós éramos amigos desde o primeiro dia de faculdade?
− Sim. – Joe falou em uma voz calma, correndo seus dedos pelo gargalo de sua garrafa, sentindo a condensação que havia ali. Quando eu não continuei ele ergueu a cabeça, me dando outro olhar orgulhoso pela maneira que eu estava encarando seus dedos, também. Para me fazer continuar, ele tocou levemente meu lábio inferior com seu dedão umedecido, o que só me fez querer atacá-lo ainda mais.
− Prossiga, Demi. – Joe sorriu, o bom-humor retornando enquanto ele percebia o efeito que exercia sobre mim.
− Certo... Bem, nós começamos a sair por um tempo. – e lá se foi o bom-humor – Não terminamos exatamente da melhor maneira, e eu não tenho retornado as suas ligações ultimamente, então hoje pode ser um tanto esquisito.
− Ele continua te ligando contra a sua vontade? – Joe me perguntou, cerrando os olhos para o assento vazio à nossa frente como se ele já conseguisse visualizar Victor sentado ali. Nota mental: manter a maldita boca fechada.
− Não, a coisa não é bem assim. Ele só estava chateado com tudo. Digamos que ele levou o nosso relacionamento muito mais a sério do que eu. – expliquei rapidamente, pegando a mão que estava em meu ombro e a apertando para tranquilizá-lo. Isto chamou a atenção de Joe.
− Como assim? – perguntou, deixando a cabeça cair para o lado igual a um cãozinho curioso. Decidi ser honesta, e murmurei ligeiramente:
− Ele pensou que nós éramos um casal, e eu pensei que nós éramos amigos com benefícios. – olhei para Joe depois que falei, e vi que a sua cabeça ainda estava inclinada para o lado e ele obviamente estava tentando descobrir como digerir esta nova informação. Deixei escapar um suspiro de alívio quando ele finalmente riu.
− Graças a Deus que você ainda era virgem! Duvido que houvesse muitos benefícios rolando, então. – Joe disse, parecendo loucamente aliviado. Sua mão livre, que estava fechada em um punho, se afrouxou.
− Hmm. – discordei, corando levemente porque este era um assunto sobre o qual eu não conseguiria mentir – Não foram... hmm... só beijinhos.

− Oh! – a cara de Joe murchou quando ele percebeu minha vermelhidão e a minha expressão preocupada. – Acho que há muitas coisas que você pode fazer sem... a real penetração. – ele disse, estremecendo.

Eu sabia que isto estava arruinando a memória da nossa “M.S.P.V.Q.V.C.F.A.G.S.R.P." em sua cabeça, comparando tudo o que ele havia feito comigo com o que Victor havia feito. Por um minuto senti culpa, antes de perceber que ele era o roto falando do esfarrapado. Eu não tinha nenhum problema com todas as mulheres com quem ele havia dormido, exceto com Lana, que tinha sido uma vaca bem na minha cara.

− Joe. – falei firmemente, apertando sua mão para fazê-lo olhar para mim. Uma vez que meus olhos fizeram contato com os seus, miseráveis, ergui uma sobrancelha e o avisei – Você não quer mesmo começar com as comparações, não é? – parecendo devidamente repreendido, ele murmurou um pedido de desculpas.
− Sinto muito. É só que eu me sinto muito... protetor em relação a você. Por favor, me perdoe.
Pressionei meus lábios em seu pescoço para mostrar a ele que eu estava bem, porque não havia dúvida alguma da sinceridade no seu pedido de desculpas. E foi assim que Victor nos encontrou, o braço de Joe ao redor dos meus ombros, me moldando ao seu lado, minha mão agarrada à dele, nós dois segurando nossas cervejas e meu rosto afundado no pescoço dele.

− Ei, Demi! E eu pensando que você estava brincando sobre trazer o namorado. – o riso rouco de Victor, embora sem um pingo de diversão, me fez pular ao lado de Joe, seu braço caindo frouxamente ao seu lado quando me levantei.
− Victor! É bom ver você! – dei nele um abraço entusiasmado e desengonçado, minha cabeça batendo na altura do seu estômago. O garoto tinha virado um gigante. Ele me abraçou mais forte e por mais tempo do que eu estava confortável, e assim que me libertou do aperto, manteve suas mãos em meus ombros e me deu uma boa olhada.
− Você está muito bem, baby. – Victor falou, mas seus olhos castanhos pareceram enegrecer quando tocaram meu pescoço e as marcas de Joe ali.

Eu não estava entendendo o porquê do "muito bem". Eu estava vestindo um jeans desbotado, All Stars e uma das velhas camisetas da escola de Joe. Não estava usando nenhuma maquiagem além do meu recém-favorito brilho labial de cereja, e meus cabelos estavam uma coisa depois de eu tê-los esmagado durante o nosso cochilo da tarde.
Joe estava vestido quase igual a mim, com jeans, tênis, uma camiseta velha e desbotada e com o cabelo ruim, exceto que apenas ele parecia com um modelo. O modelo em questão ficou de pé e deu um pigarro de maneira respeitosa, fazendo com que eu me afastasse das mãos de Victor para ficar entre eles.

− Victor Symon, Joe Jonas. Joe Jonas, Victor Symon.

Nenhum deles pareceu muito inclinado a seguir com a apresentação, embora os dois estivessem fazendo aquela coisa de macho, tipo encarando um ao outro dos pés à cabeça. Era a versão masculina do "será que o seu bronzeado é natural?" e "quanto será que o vestido dela custou?", a não ser pelo fato de eles estarem se perguntando "será que eu brigo com ele agora, ou depois?". Finalmente Joe estendeu sua mão, e então eles passaram alguns segundos fazendo aquela coisa de macho ao apertar-e-sacudir-as-mãos, me fazendo estremecer só de olhar para eles.

− Prazer em conhecê-lo, Victor. – Joe disse em uma voz perfeitamente educada assim que soltou a mão do outro, me fazendo amá-lo ainda mais por manter a sua hostilidade de lado.

Não pude evitar, e torci silenciosamente por Team Joe quando notei que Victor flexionava seus dedos levemente. Nós nos sentamos, Joe ocupando todo o assento, de forma que eu tive que praticamente sentar em seu colo para conseguir espaço suficiente. Lancei a ele um olhar severo, mas ele me olhou de volta com uma expressão tão inocente que eu tive de deixar passar. Victor sentou à nossa frente e houve um minuto constrangedor em que todos nós ficamos nos encarando. Eu estava prestes a sair correndo no mínimo sinal de que os dois fossem começar a se digladiar.
O silêncio foi quebrado quando o braço de Joe foi parar mais uma vez ao redor dos meus ombros, pelo que Victor de repente soltou:

− Ele não é o seu chefe? Quantos anos ele tem? – muito bem, Victor. Que bela maneira de fazer dessa noite um sucesso desde o começo. O aperto de Joe ficou mais forte em meus ombros, e eu jurei que ouvi o princípio de um rosnado escapar de sua garganta.
− Ele só é alguns anos mais velho do que nós, Victor. – respondi em um tom de aviso – E sim, ele é meu chefe. Não que isto seja assunto seu.

Victor abriu sua boca, e eu podia dizer só pelo brilho malicioso em seu olhar que ele iria dizer algo cruel, mas felizmente a nossa garçonete de bochechas rosadas voltou, lançando olhares furtivos ao meu namorado digno-de-desmaios. Nem vem, vadia.
Me arrastei mais para perto de Joe, ganhando um sorriso calmo, porém nervoso. Nós todos fizemos nossos pedidos, e não deixei passar em branco a bufada que Victor deu quando Joe e eu pedimos a mesma coisa e então ficamos feito dois bobões olhando um pro outro por causa disso.
− Mentes brilhantes. – sorri para Joe, apertando sua coxa sob a mesa para tentar amenizar um pouco a tensão que eu conseguia sentir emanar dele. Eu dei nele um rápido beijo no pescoço novamente, só porque eu não resistia à forma como o seu pomo-de-Adão se movia sempre que o tocava.
− Jesus! – Victor murmurou, fazendo com que a Joe deixasse de fitar meus olhos e virasse a cabeça encará-lo.
− Algum problema? – Joe perguntou com a voz tão fria, que eu tinha certeza de que pinguins viriam marchando daqui a pouco.

Victor deu uma de arrogante, se inclinando no meio do seu assento e me lançando um sorriso folgado. Ele ainda era atraente, mas não era nada comparado ao meio sorriso preguiçoso de Joe.

− Não, nada. – Victor respondeu em um tom radiante, vitorioso – Eu só estava lembrando como a Demi costumava ficar desconfortável com demonstrações públicas de carinho. Sempre me arrastando de volta para o apartamento dela.

O maldito estava usando a jogada do "nós temos história", e eu conhecia o Joe-homem-das-cavernas o bastante para perceber que isto funcionaria como um encanto. Me afundei ainda mais ao lado de Joe e lancei a Victor um olhar raivoso.
− Eu tenho a tendência a esquecer onde estou quando estou ao lado do Joe. – falei friamente, esperando manter a parte do “e então eles se atacaram” fora do histórico da noite.
− Eu nem mesmo iria mencionar o chupão. – Victor riu em resposta, como se eu não tivesse falado. Aquela obviamente era apenas uma fachada, pois facilmente eu conseguia ver o ciúme em seus olhos. – Demi nunca me deixou lhe dar nenhum no pescoço. Cara, eu tinha que ser criativo com a escolha dos lugares.

Senti Joe começar a levantar da sua posição, o rosnado escapando de seus lábios, então eu rapidamente passei minha perna sobre seu colo e minhas mãos foram parar em sua cintura.

− Victor. Seja agradável ou vá embora. A escolha é sua. Eu já fiz a minha. – falei o mais calmamente possível, embora parecesse que eu estava tentando refrear um touro.

Dei um beijo na base da orelha de Joe e ele se encostou em mim, dando-me um sorriso tenso que não atingia seus olhos. Um silêncio incômodo recaiu sobre a mesa enquanto a garçonete trouxe nossas comidas, ninguém ousando olhar para ninguém. Nós três fazíamos parte de uma bolha tensa, completamente indiferente às risadas felizes das pessoas nas outras cabines ou à multidão junto ao bar.
− Olha, será que nós poderíamos falar sobre essa viagem? – eu disse, finalmente, depois de automaticamente ter passado para o Joe todos os meus brócolis e pego todas as suas cenouras. Nós tínhamos descoberto na quarta-feira que eu odiava um e ele odiava o outro, formando assim o casal perfeito no Paraíso dos Vegetais.
− Tudo bem, Demi. O que você quiser. – Victor concordou, sendo todo insinuante e insistente mais uma vez.

O aperto de Joe em seu garfo ficou mais forte, e eu temi por um segundo que ele fosse furar Victor no olho com ele, mas ao invés disso ele retrucou friamente:

− Acho que a minha Demi só quer ouvir falar sobre Londres, obrigado. E o que mais ela precisar, está sob a minha responsabilidade, e não sua.

Então ele deu a Victor um sorriso tão leve, que você poderia pensar que não havia nem um pingo de hostilidade entre os dois. Victor fechou a cara, obviamente reconhecendo que não conseguiria competir com um cara que lia livros de Direito por diversão, e mudou de tática. Se concentrando inteiramente em mim.
− Então, eu conversei com o nosso orientador e fiquei sabendo como toda a coisa vai funcionar. E deixa eu dizer, Demi, vai ser um negócio incrível para mim e pra você.

E ele estava certo. Não sobre a parte "eu e você", porque eu já tinha o homem mais perfeito de todos, muito obrigada, mas sobre a parte do negócio. Quarenta minutos depois Victor tinha terminado de explicar tudo, respondendo minhas questões e correspondendo meu entusiasmo espontâneo com prazer. Era um acordo incrivelmente brilhante. Eu tinha presumido que seria apenas um curso equivalente ao que eu estava fazendo agora, mas na realidade era um doutorado acelerado, algo que eu nunca tinha acreditado que teria dinheiro, habilidade ou tempo para fazer.
Seria a junção de dois anos extras de estudos em um só, isso sem mencionar que toda a coisa vinha com a vantagem de livros gratuitos, alimentação, alojamento gratuito e colocação profissional. Joe tinha ficado rígido como uma tábua enquanto eu lia os folders que Victor havia trazido para nós, seu braço sendo tirado a muito tempo dos meus ombros. Eu estava desesperada para ficar com ele a sós, sabendo que ele tinha a mania de ver as coisas piores do que eram. Na cabeça dele, eu provavelmente já estava fugindo com Victor e me casando em Vegas.
Quando terminamos o jantar, Victor e eu combinamos de conversar sobre tudo mais uma vez antes da próxima semana, embora eu tenha deixado bem claro para ele que seria uma conversa por telefone, e não outro desastroso encontro cara a cara. Aquela ligação seria basicamente eu gritando com ele por uma boa hora, e então passando mais uma hora explicando que a minha Londres e a Londres dele seriam esferas diferentes que não se tocariam.
Disse a Victor que Joe e eu tínhamos que nos deitar cedo, mas ele pulou antes que eu conseguisse escapar apropriadamente, e me deu outro abraço quebra-ossos.

− Nós teremos o melhor ano, Demi. – eu podia senti-lo encarando Joe por cima do meu ombro, e fiquei ainda mais tensa em seus braços. – Esta é uma oportunidade única na vida. Espero que você não deixe nada ficar no caminho.

Ah, quando eu tivesse chance. Eu iria até a casa do Victor, escalaria a sua janela igual a uma ninja e enfiaria palitos de cenoura no seu nariz. O idiota só estava tornando as coisas dez vezes piores. Me afastei com raiva dele, bem a tempo de ver Joe jogar na mesa dinheiro suficiente para pagar todo o jantar, além de uma considerável gorjeta.
Ele me puxou em seus braços da maneira que eu adorava, sua mão descansando no meu quadril e o seu rosto escondido atrás do meu ouvido. E então, sem lançar nem mesmo um olhar de desdém da direção de Victor, Joe me levou até a porta e até o estacionamento.
Nenhum de nós falou nada até que estávamos sentados lado a lado dentro do Bentley. Joe não fez nenhuma tentativa de ligar o carro, ao invés disso ele encostou a testa no volante e procurou cegamente por minha mão.
− Joe. – eu falei hesitante, sem realmente saber por onde começar. Mas aparentemente ele já sabia o que eu iria dizer, pois suspirou pesadamente e levou nossas mãos unidas até sua boca.
− Eu entendi, anjo. – ele rosnou contra nossas mãos, me surpreendendo quando mordeu levemente um dos nós dos meus dedos. Abafei um gemido quando ele lambeu a pele mordida, e afastei minha mão o suficiente para levantar seu queixo. Quando seus olhos encontraram os meus, eles estavam tempestuosos e frustrados, provavelmente com o seu desejo de voltar e bater em Victor.
− Joe. – comecei novamente, desta vez sabendo exatamente o que eu precisava dizer só pela grande confusão em seu rosto. – Primeiro, e eu não quero te alarmar com isso, mas você está totalmente apaixonado por mim.

Pronto, ali estava. Se ele não queria deixar as coisas claras, então eu deixaria. Eu não estava mais preocupada com a rejeição ou como eu iria imaginar a vida sem ele. Tive a sensação de formigamento quando seus olhos se arregalaram com a surpresa, mas então ele não fez nenhuma menção para me contradizer.

− Segundo... – continuei, quando percebi que esta era a única reação que receberia - eu quero encontrar uma solução, e eu quero ser a sua namorada por quanto tempo você me quiser. – respirei fundo e tomei a decisão mais difícil da minha vida – E, por fim, eu vou para Londres.

Nota da autora: UTI ou Honeymooner Disease = é uma doença infecciosa do trato urinário. A razão para o uso da palavra Honeymoon (lua-de-mel) é porque esta infecção geralmente ocorre como resultado da frequente ou prolongada atividade sexual, como seria normalmente esperado no período de lua-de-mel em um casamento.

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