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Beautiful Bastard - Capitulo 16



 

Beautiful Bastard - Capitulo 16


Nós lentamente voltamos da órbita. Abraçados debaixo dos lençóis, passamos horas conversando sobre nosso dia, sobre a reunião com o Sr. Gugliotti, sobre seu jantar e minha noite com as amigas. Conversamos sobre a mesa quebrada e sobre eu ter trazido calcinhas apenas para uma semana, o que significava que ele não poderia rasgar mais nenhuma. Conversamos sobre tudo, exceto o estrago que ele estava causando em meu coração. Passei um dedo por seu peito e ele o agarrou, levando até os lábios e dizendo: – Eu gosto de conversar com você. Eu ri, arrumando o cabelo em sua testa. – Você conversa comigo todos os dias. E quando eu digo “conversa”, quero dizer “grita”. Bate as portas. Faz beicinho... Com os dedos, ele desenhava círculos em minha barriga, me distraindo. – Você sabe o que quero dizer. Eu sabia. Sabia exatamente o que ele queria dizer, e eu queria encontrar uma maneira de fazer esse momento durar mais, ali mesmo, até a eternidade. – Então, me conte alguma coisa. Ele subiu os olhos até meu rosto, sorrindo nervosamente. – O que você quer saber? – Honestamente? Eu acho que quero saber tudo. Mas vamos começar de um jeito fácil. Conte a história das mulheres de Joe. Ele passou o longo dedo por cima da sobrancelha, rindo: – Vamos começar com um assunto fácil. Claaaaro – limpou a garganta e então olhou para mim. – Algumas no colégio, algumas na faculdade, algumas na pós-graduação. Algumas depois disso. E então, um relacionamento longo quando eu morei na França. – Detalhes? – enrolei uma mecha de seu cabelo ao redor do meu dedo, esperando não estar forçando muito a barra. Para minha surpresa, ele respondeu sem hesitar. – Seu nome era Sylvie. Ela era advogada de uma pequena firma em Paris. Ficamos juntos por três anos e nos separamos alguns meses antes de eu voltar para casa. – Foi por causa disso que você se mudou de lá? Um sorriso se pronunciou no canto de sua boca. – Não. – Ela partiu seu coração? O sorriso se abriu de vez na minha direção. – Não, Demi.
– Você partiu o coração dela? – por que eu estava perguntando? Será que eu queria que ele respondesse... que sim? Eu sabia que ele era capaz de partir corações. Na verdade, eu estava quase certa de que partiria o meu. Ele se inclinou para me beijar, concentrando-se no meu lábio inferior por alguns momentos antes de sussurrar: – Não. Nós apenas não funcionávamos mais. Minha vida romântica era totalmente sem drama. Até você aparecer. Eu ri. – Estou contente por quebrar o padrão. Pude sentir sua risada vibrar ao longo da minha pele enquanto ele beijava meu pescoço. – Ah, e você quebrou mesmo – longos dedos percorreram minha barriga, meus quadris, e finalmente chegaram no meio das minhas pernas. – Sua vez. – De ter um orgasmo? Sim, por favor. Ele circulou preguiçosamente meu clitóris antes de deslizar o dedo para dentro. Ele conhecia meu corpo melhor do que eu. Quando foi que isso aconteceu? – Não – ele murmurou. – É a sua vez de contar sua história. – De jeito nenhum eu consigo pensar em qualquer coisa enquanto você faz isso. Com um beijo em meu ombro, ele moveu a mão de volta para minha barriga, desenhando círculos novamente. Fiz um beicinho, mas ele não viu, pois estava olhando seu dedo na minha pele. – Deus, tive tantos homens na minha vida, por onde devo começar? – Demi... – ele advertiu. – Uns dois no colegial, um na faculdade. – Você só transou com três homens? Eu me afastei para olhar em seu rosto. – Ei, Einstein. Eu transei com quatro homens. Um sorriso convencido se espalhou em seu rosto. – É mesmo. Eu fui o melhor por uma margem desconcertantemente grande? – Responda primeiro se eu fui a sua melhor. Seu sorriso desapareceu e ele piscou, surpreso. – Sim. Ele foi sincero. Isso fez algo dentro de mim derreter e se tornar uma pequena vibração quente. Eu me inclinei para beijá-lo no queixo, tentando esconder o que aquela informação tinha feito comigo. – Bom. Beijando seus ombros, eu gemi de felicidade. Eu adorava seu sabor, adorava sentir aquele seu cheiro de ervas. Mergulhando meus dedos em seus cabelos, eu o puxei para trás para poder morder seu queixo, seu pescoço, seu ombro. Mas ele se manteve parado, quase imóvel, claramente não me beijando de volta. Mas o quê? Ele respirou fundo, abriu a boca como se fosse dizer algo, mas fechou novamente. De algum jeito eu consegui manter minha boca afastada tempo suficiente para perguntar: – O que foi? – Eu sei que você pensa que eu sou um galinha cafajeste, mas isso importa para mim.
– O que importa...? – Eu quero ouvir você dizer. Eu o encarei, e ele me encarou de volta, seus olhos começando a mostrar um familiar tom castanho-esverdeado de irritação. Mentalmente relembrando os últimos minutos de conversa, tentei entender o que ele estava falando. Ah. – Ah. Sim. Suas sobrancelhas se juntaram. – Sim, o quê, Srta. Lovato? Senti um calor percorrer meu corpo. Sua voz estava diferente quando ele disse isso. Severa. Mandona. Sexy. – Sim, você é o melhor por uma margem desconcertantemente grande. – Acho bom mesmo. – Pelo menos até agora. Ele rolou para cima de mim, agarrando meus pulsos e prendendo-os acima da minha cabeça. – Não me provoque. – Não provocar? Por favor! – eu disse, perdendo o fôlego. Seu pau pressionou contra minha coxa. Eu queria que estivesse mais para cima. Queria que estivesse entrando em mim. – Tudo o que fazemos é provocar! Como se quisesse provar que eu estava errada, ele levou a mão livre para debaixo dos lençóis, pegou seu pau e o guiou para dentro de mim, puxando minha perna ao redor de sua cintura. Mantendo-se parado, ele me encarou. Seu lábio superior tremeu. – Por favor, mexa – sussurrei. – Você gosta disso? – Sim. – E se eu não mexer? Mordi o lábio e tentei olhá-lo nos olhos. Ele sorriu e grunhiu: – Isto é provocação. – Por favor? – tentei mover meus quadris, mas ele seguiu meus movimentos para que eu não conseguisse fricção. – Demi, eu nunca provoco você. Eu gosto é de foder até deixar você maluca. Eu ri, e seus olhos se fecharam enquanto meu corpo apertava-o ainda mais. – Não que você seja muito sã, para começo de conversa – ele disse, mordendo meu pescoço. – Agora, diga o quanto eu faço você se sentir bem – havia algo na voz dele, uma vulnerabilidade no final da frase, que me fez perceber que ele não estava brincando. – Ninguém nunca me fez gozar antes. Seja com mãos, boca ou qualquer outra coisa. Ele já estava imóvel antes, e era possível perceber os sinais de que estava reprimindo algo: seus ombros estavam trêmulos e sua respiração entrecortada, como se o corpo inteiro quisesse explodir debaixo dos lençóis. Mas quando eu disse isso ele congelou completamente. – Ninguém? – Apenas você – eu me inclinei e mordi seu queixo. – Eu diria que isso te coloca um pouco à frente dos outros. Ele disse meu nome quando soltou a respiração e mexeu os quadris para frente e depois para trás. E de novo, para
frente e para trás. A conversa tinha acabado. Sua boca encontrou a minha, e depois meu queixo, meu rosto, minha orelha. Sua mão subiu pelo meu corpo, passando pelos seios até finalmente chegar ao rosto. E quando achei que estávamos perdidos no ritmo e eu já sentia meu clímax se aproximando, e enterrei meus calcanhares na bunda dele querendo mais, mais rápido, querendo-o inteiro, e ele sussurrou: – Eu queria ter descoberto isso antes. – Por quê? – falei com dificuldade no meio da minha respiração pesada. Mais rápido, gritava meu corpo. Mais. – Você teria sido menos filho da puta comigo? Ele tirou minhas pernas da sua cintura e me colocou de joelhos. – Não sei. Só queria saber antes – ele grunhiu, entrando em mim novamente. – Deus. Tão fundo assim... Seus movimentos eram fluidos, como uma superfície de água ondulante, como um raio de sol percorrendo um quarto escuro. As molas da cama rangiam debaixo de nós, a força de suas estocadas me empurravam pelo colchão acima. – Quase – agarrei os lençóis e implorei para ele continuar. – Quase. Mais forte. – Merda. Está tão perto. Vai – ele sincronizou cada movimento com o último, sabendo que aquele era o ponto do qual não havia mais volta. – Vai. Seu rosto, sua voz, seu cheiro – cada parte sua preenchia minha mente quando eu obedientemente gozei debaixo dele. Ele estocou com força, então todos os seus músculos congelaram e ele se derreteu em mim quando também gozou. – Merda, merda, merda... – ele soltou o ar em meu cabelo antes de cair, pesado e silencioso, em cima de mim. O ar-condicionado ligou automaticamente e ficou emitindo um zumbido. Após recuperar o fôlego, Joe rolou para o lado, passando a mão por minhas costas suadas. – Demi? – Hum? Quando ele falou, sua voz estava tão grave e pesada que eu não tinha certeza se ele estava acordado. – Eu quero mais do que apenas isto. Eu congelei e meus pensamentos explodiram em uma bagunça caótica. – O que você disse? Ele abriu os olhos, com esforço aparente, e olhou para mim. – Eu quero estar com você. Apoiando meu corpo no cotovelo, eu o encarei, completamente incapaz de produzir uma única palavra. – Tanto sono – seus olhos se fecharam, ele colocou o braço pesado em cima de mim e me puxou para perto. – Garota, venha aqui – ele pressionou o rosto no meu pescoço e murmurou: – Tudo bem se você não quiser. Eu aceito qualquer coisa que você disser. Só me deixe ficar aqui até amanhã, certo? De repente, eu estava mais do que acordada e fiquei encarando o vazio escuro e ouvindo o zumbido do arcondicionado. Fiquei apavorada pensando que aquilo mudava tudo, e ainda mais apavorada pensando que talvez ele não soubesse o que estava falando e que aquilo não mudaria nada. – Certo – sussurrei na escuridão, ouvindo ele respirar lentamente, em um ritmo constante de sono profundo.
Rolei para o lado e abracei um travesseiro, buscando conforto. O cheiro dele me acordou, mas os lençóis frios do
outro lado da cama me disseram que eu estava sozinha. Olhei para a porta do banheiro, tentando ouvir qualquer som vindo de dentro. Não havia nenhum. Continuei deitada ali, abraçando seu travesseiro enquanto meus olhos se tornavam pesados. Eu queria esperar por ele. Precisava da segurança de seu corpo quente ao meu lado e precisava sentir seus braços fortes ao meu redor. Imaginei ele me abraçando, sussurrando que aquilo era real e que nada mudaria naquela manhã. Logo meus olhos se fecharam e voltei a cair em um sono inquieto. Algum tempo depois, acordei novamente, ainda sozinha. Rolando rapidamente para o lado, olhei para o relógio: cinco e quinze da manhã. O quê? Procurando na escuridão, vesti a primeira coisa que encontrei e andei até a porta do banheiro. – Joe? – sem resposta. Bati na porta suavemente. – Joe? – ouvi um grunhido e algo se mexendo levemente do outro lado da porta. – Só vá embora – sua voz estava rouca, ecoando pelas paredes do banheiro. – Joe, você está bem? – Não estou me sentindo bem. Vou melhorar, apenas volte para a cama. – Posso trazer alguma coisa? – Estou bem. Apenas, por favor, volte para a cama. – Mas... – Demi – ele grunhiu, obviamente irritado. Eu me virei, sem saber o que fazer, lutando contra uma sensação ruim. Ele estava mesmo doente? Em pouco menos de um ano, eu nunca o tinha visto nem mesmo resfriado. Estava óbvio que ele não me queria encostada na porta, mas também eu não poderia simplesmente voltar para a cama. Em vez disso, arrumei os lençóis e fui até a sala de estar da suíte. Peguei uma garrafa de água do minibar e sentei no sofá. Se ele estivesse passando mal, quer dizer, realmente passando mal, não conseguiria participar da reunião com Gugliotti dali a algumas horas. Liguei a televisão e comecei a zapear entre os canais. Infomercial. Filme ruim. Nickelodeon. Ah, quanto mais idiota melhor. Relaxando no sofá, dobrei as pernas por baixo do corpo e me preparei para esperar. No meio do filme, ouvi a água correndo no banheiro. Sentei e fiquei ouvindo, já que era o primeiro som em mais de uma hora. A porta do banheiro se abriu e voei do sofá, peguei outra garrafa de água e entrei no quarto. – Você está se sentindo melhor? – Sim. Acho que só preciso dormir agora – ele desabou na cama e enterrou o rosto no travesseiro. – O que... o que você teve? – coloquei a garrafa de água no criado-mudo e sentei no canto da cama. – É o meu estômago. Acho que foi o sushi do jantar – seus olhos estavam fechados e, mesmo sob a fraca luz que vinha do outro quarto, eu podia ver que ele parecia mal. Ele se afastou um pouco de mim, mas eu o ignorei e coloquei uma mão em seu cabelo e a outra em seu rosto. O cabelo estava molhado e o rosto estava pálido e suado. Apesar da reação inicial, ele relaxou com meu toque. – Por que você não me acordou? – eu perguntei, movendo algumas mechas molhadas de sua testa. – Porque a última coisa que eu precisava era ter você lá assistindo eu vomitar – ele respondeu, mal-humorado. Eu revirei os olhos, oferecendo a garrafa de água. – Eu poderia ter feito alguma coisa. Você não precisa ser tão machão. – E você não precisa ser tão mulherzinha. O que poderia fazer? Comida estragada é uma coisa de que a pessoa precisa cuidar sozinha.
– E então? Eu devo ligar para o Gugliotti? Ele grunhiu e esfregou a mão no rosto. – Merda. Que horas são? Olhei para o relógio. – Sete e pouco. – Que horas é a reunião? – Às oito. Ele começou a se levantar, mas eu facilmente fiz com que ele se deitasse de novo. – De jeito nenhum você vai para aquela reunião desse jeito! Quando foi a última vez que vomitou? Ele grunhiu. – Alguns minutos atrás. – Exatamente. Nem pensar. Vou ligar para remarcar. Ele agarrou meu braço antes que eu pudesse me aproximar da mesa para pegar o telefone. – Demi. Você faz a reunião. Ergui as sobrancelhas quase até a linha do cabelo. – Como é? Ele esperou. – Eu fazer a reunião? Ele assentiu. – Sem você? Ele assentiu novamente. – Você vai me enviar para uma reunião sozinha? – Srta. Lovato, como você é inteligente! – Vá se ferrar! – eu disse, rindo e empurrando-o gentilmente. – E eu não vou fazer isso sem você. – Por que não? Aposto que você conhece a conta tão bem quanto eu. Além disso, se remarcarmos, ele vai acabar fazendo uma viagem para Chicago com tudo pago e depois nos enviar a conta. Por favor, Demi. Fiquei encarando seu rosto, esperando que ele começasse a sorrir e dissesse que estava brincando. Mas não estava. E, na verdade, eu conhecia sim a conta, e sabia todo o procedimento. Eu conseguiria fazer isso. – Certo – eu disse, sorrindo e sentindo que talvez fosse possível resolver a nossa situação, afinal de contas. – Eu topo. Seu rosto se tornou sério e ele usou uma voz que eu mal tinha ouvido nos últimos dias. Aquilo enviou pequenas ondas de desejo por meu corpo. – Diga qual é o seu plano, Srta. Lovato. Assentindo, eu disse: – Preciso me certificar que ele sabe os parâmetros e os prazos do projeto. Ficarei atenta com promessas exageradas, sei que o Gugliotti é famoso por fazer isso – quando Joe assentiu, sorrindo um pouco, eu continuei. – Vou confirmar as datas do início do contrato e das apresentações. Quando terminei de contar nos meus dedos esses cinco itens, seu sorriso aumentou. – Você vai se sair bem.
Eu me inclinei e beijei sua testa suada. – Eu sei.
Duas horas depois, se você me perguntasse se eu podia voar, eu diria em um instante que sim. Tudo foi perfeito na reunião. O Sr. Gugliotti, que inicialmente não gostou muito de encontrar uma estagiária no lugar de um executivo da Jonas Media, amoleceu depois de ouvir as circunstâncias. E mais tarde pareceu impressionado com o nível de detalhes que eu providenciei. Ele até me ofereceu um emprego. – É claro, depois que você terminar com o Sr. Jonas – ele disse com uma piscadela, e eu educadamente sorri de volta. Eu não sabia se queria realmente terminar com o Sr. Jonas. No caminho de volta da reunião, liguei para a Denise e perguntei o que o Joe gostava de fazer quando estava doente. Como suspeitei, a última vez que ela pudera cuidar dele com canja de galinha e sorvete tinha sido ainda no colégio. Ela ficou encantada de receber minha ligação, e tive de engolir o sentimento de culpa quando ela perguntou se ele estava se comportando. Assegurei que tudo estava indo bem e que ele tinha apenas uma indigestão e, claro, que eu diria para ele telefonar. Com uma sacola de supermercado nas mãos, entrei no quarto e parei na área da cozinha para guardar a comida e tirar meu casaco de linho. Vestindo apenas minha roupa de baixo, entrei no quarto, mas Joe não estava lá. A porta do banheiro estava aberta, mas ele também não estava lá. Parecia que a camareira tinha arrumado o quarto, os lençóis estavam limpos e dobrados, e nossas roupas já não estavam mais espalhadas pelo chão. A porta da varanda estava aberta, deixando uma brisa entrar. Lá fora, encontrei ele sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça nas mãos. Parecia ter tomado banho e estava vestindo um jeans escuro e uma camiseta verde de mangas curtas. Minha pele se arrepiou com sua imagem. – Oi – eu disse. Ele olhou para cima e seus olhos percorreram cada curva minha. – Caramba. Espero que você não tenha usado isso na reunião. – Bom, eu usei – eu disse, rindo. – Mas usei debaixo de um lindo casaco azul-marinho. – Bom – ele me puxou para perto, envolvendo completamente os braços em minha cintura e pressionando sua testa em minha barriga. – Eu senti sua falta. Senti uma pequena pontada em meu peito. O que estávamos fazendo? Aquilo era real ou estávamos brincando de casinha por alguns dias para depois voltar ao normal? Não sabia se conseguiria voltar ao normal depois daquilo, e não sabia como seria o futuro. Pergunte para ele, Demi! Seu olhar queimou meu rosto enquanto ele esperava que eu dissesse alguma coisa. – Você está se sentindo melhor? Covarde. Seu rosto mostrou um pouco de decepção, mas ele logo escondeu isso. – Sim. Como foi a reunião? Embora eu ainda estivesse animada por causa da reunião e morrendo de vontade de contar cada detalhe, ele retirou seus braços da minha cintura e se arrumou na cadeira ao perguntar isso, e eu tive uma sensação irracional
de frio e de vazio. Eu queria voltar dois minutos no tempo, quando ele disse que sentiu minha falta, e então eu poderia responder “Também senti sua falta”. Eu o beijaria e acabaríamos nos distraindo, e eu contaria sobre Gugliotti apenas horas mais tarde. Mas em vez disso contei todos os detalhes da reunião – como o Gugliotti reagiu ao me ver, e como eu redirecionei seu foco para o projeto. Contei cada aspecto da discussão com tantos detalhes que, no fim da minha história, Joe estava rindo baixinho. – Meu Deus, você fala demais. – Acho que deu tudo certo – eu disse, dando um passo adiante. Envolva seus braços em mim de novo. Mas ele não fez isso. Recostou-se na cadeira e mostrou um sorriso endurecido, do tipo que fazia quando encarnava o Cretino Irresistível. – Você foi ótima, Demi. Não estou nem um pouco surpreso. Eu não estava acostumada com esse tipo de elogio vindo dele. Melhoria na caligrafia, uma boa chupada – essas eram as coisas que ele sabia notar. E fiquei surpresa ao perceber o quanto sua opinião importava para mim. Será que sempre fora assim? Será que ele começaria a me tratar diferente se nos tornássemos amantes ao invés de apenas termos umas transas casuais? Eu não sabia se realmente queria que ele fosse um chefe mais educado, ou que tentasse misturar o papel de mentor e amante. A verdade é que eu gostava muito do Cretino Irresistível no trabalho, e também na cama. Mas, assim que pensei nisso, percebi que agora a maneira como interagíamos antes parecia distante, como um par de sapatos que já não cabia mais nos pés. Eu estava dividida entre querer que ele dissesse algo cretino, me atirando de volta para a realidade, e querer que ele me puxasse para perto e beijasse meus seios através do tecido da lingerie. De novo, Demi. Essa é a razão número 750 mil para não transar com seu chefe. Você acaba transformando um relacionamento bem definido numa confusão onde os limites não estão claros. – Você parece tão cansado – sussurrei quando comecei a passar meus dedos nos cabelos atrás do seu pescoço. – Eu estou – ele murmurou. – Ainda bem que não fui. Eu vomitei. Bastante. – Obrigada por me contar – eu ri. Relutantemente, me afastei e pousei as mãos em seu rosto. – Eu trouxe sorvete, refrigerante e bolacha de água e sal. Qual você quer primeiro? Ele encarou meu rosto, completamente confuso por um momento. – Você ligou para a minha mãe?
Desci até a convenção por algumas horas durante a tarde para que ele pudesse dormir um pouco. Ele tentava mostrar um exterior forte, mas eu podia ver de longe que só um pouco de sorvete já fazia seu estômago embrulhar. Além disso, naquela convenção em particular ele mal podia dar dois passos sem ser parado e paparicado. Mesmo sem estar doente ele não conseguiria se concentrar em qualquer coisa que valesse a pena. Quando voltei para o quarto, ele estava esparramado no sofá em uma pose que não tinha nada de irresistível: sem camisa e com a mão dentro da cueca. Havia algo tão comum na maneira como ele estava sentado, entediado, olhando para a televisão. Fiquei grata pela lembrança de que aquele homem era, às vezes, apenas um homem. Apenas outra pessoa, andando pelo mundo, cuidando de suas coisas, sem passar cada segundo ateando fogo na vida dos outros. E, no meio dessa epifania de que Joe era apenas Joe, fiquei com uma sensação louca de que havia a chance de ele estar se tornando o meu Apenas Joe. E, por um instante, desejei isso mais do que qualquer outra coisa no mundo. Uma mulher com cabelos impossivelmente brilhantes virou a cabeça e sorriu para nós na televisão. Eu desabei no
sofá ao lado dele. – O que você está assistindo? – Comercial de xampu – ele respondeu, tirando a mão de dentro da cueca para me tocar. Comecei a fazer uma piada sobre a mão na cueca, mas parei no momento em que ele começou a massagear meus dedos. – Mas O balconista acabou de começar. – Esse é um dos meus filmes favoritos. – Eu sei. Você estava falando sobre esse filme na primeira vez em que te vi. – Na verdade, eu estava falando sobre a sequência – esclareci, e depois parei. – Espera, você lembra disso? – É claro que eu lembro. Você soava como uma adolescente falando, mas parecia uma modelo. Que homem não se lembraria disso? – Eu daria tudo para saber o que você estava pensando naquela hora. – Eu estava pensando “Estagiária altamente comível à frente. Recuar, soldado. Recuar”. Eu ri e me encostei em seu ombro. – Deus, aquele primeiro encontro foi terrível. Ele não disse nada, mas continuou passando o polegar em meus dedos, pressionando e acariciando. Nunca tinha recebido uma massagem na mão antes, e se ele tentasse começar sexo oral, eu talvez recusasse só para ele continuar com aquilo. Uau, que grande mentira. Eu aceitaria aquela boca entre as minhas pernas a qualquer hora do dia... – Como você quer que as coisas fiquem, Demi? – ele perguntou, tirando minha mente daquele debate interno. – O quê? – Quando voltarmos para Chicago. Encarei seu rosto, sentindo o sangue bombear com força pelas minhas veias. – As coisas entre nós – ele acrescentou, com uma paciência forçada. – Você e eu. Demi e Joe. Gato e rato. Eu sei que isso não deve ser fácil para você. – Bom, eu tenho certeza que não quero brigar o tempo todo – bati em seu ombro de brincadeira. – Apesar de até gostar um pouco dessa parte. Joe riu, mas não pareceu um som completamente feliz. – Existe muito espaço depois de “não brigar o tempo todo”. Como você quer ficar? Juntos. Quero ser sua namorada. Alguém que vê o interior da sua casa e fica por lá de vez em quando. Comecei a responder, mas as palavras evaporaram em minha garganta. – Acho que depende de saber se seria realista pensar que isso pode dar em alguma coisa. Ele deixou minha mão cair e esfregou o rosto. O filme voltou do comercial e nós caímos naquele que deve ter sido o silêncio mais constrangedor da história do mundo. Finalmente, ele pegou minha mão de volta e beijou a palma. – Certo, garota. Eu consigo não brigar o tempo todo. Fiquei olhando para seus dedos entrelaçados com os meus. Após o que pareceu uma eternidade, consegui dizer: – Desculpe. Tudo isso ainda parece um pouco novo demais. – Para mim também. Caímos no silêncio novamente e continuamos a assistir ao filme, rindo nas mesmas cenas e lentamente mudando de posição até eu praticamente estar deitada em cima dele. Com o canto do olho, espiei o relógio na parede e
mentalmente calculei as horas que nos restavam para continuar juntos em San Diego. Quatorze. Restavam quatorze horas naquela perfeita realidade em que eu podia ter o Joe a qualquer hora que quisesse, e não precisava ser em segredo, nem por causa de um desejo incontrolável, nem usando a raiva como nossa única maneira de fazer as preliminares. – Qual é o seu filme favorito? – ele perguntou, virando meu corpo e pairando sobre mim. Sua pele estava muito quente e eu queria tirar minha blusa, mas não queria que se ele movesse nem um centímetro, nem por um segundo. – Eu gosto de comédias – comecei. – Gosto de O Balconista, mas também gosto do Mong & Loide, Todo mundo quase morto, Chumbo grosso, Os sete suspeitos, coisas desse tipo. Mas tenho que dizer que meu filme favorito de todos os tempos provavelmente é Janela indiscreta. – Por causa do Jimmy Stewart ou da Grace Kelly? – ele perguntou, inclinando-se para beijar uma trilha de fogo em meu pescoço. – Os dois, mas provavelmente mais por causa da Grace Kelly. – Entendo. Você tem muito em comum com a Grace Kelly – sua mão subiu e ajeitou uma mecha de cabelo que havia se soltado do meu rabo de cavalo. – Ouvi falar que ela também tinha uma boca suja – ele acrescentou. – Você adora minha boca suja. – É verdade. Mas eu prefiro quando ela está cheia – ele disse, com o sorrisinho apropriado no rosto. – Sabe, se você calasse a boca de vez em quando você seria quase perfeito. – Mas então eu seria um rasgador de calcinhas silencioso, o que acho que é bem mais esquisito do que um chefão rasgador de calcinhas. Eu me dissolvi em risadas enquanto ele fazia cócegas nas minhas costelas. – Eu sei que você adora isso – ele grunhiu. – Joe – eu disse, tentando soar desinteressada –, o que você faz com elas? Ele me lançou um olhar sombrio e provocante. – Guardo num lugar seguro. – Posso ver? – Não. – Por quê? – perguntei, apertando os olhos na sua direção. – Porque você vai tentar pegá-las de volta. – Por que eu iria querer de volta? Você rasgou todas! Ele sorriu maliciosamente, mas não respondeu. – Por que você faz isso, afinal de contas? Ele me estudou por um momento, obviamente considerando uma resposta. Finalmente, se apoiou no cotovelo e colocou o rosto perto do meu. – Pela mesma razão pela qual você gosta quando eu faço isso. Então ele se levantou e me puxou para o quarto.

Beautiful Bastard - Capitulo 15


Beautiful Bastard - Capitulo 15


O tema da conferência naquele ano era “A próxima geração das estratégias de marketing” e, numa tentativa de atrair as novas gerações, os organizadores marcaram no primeiro dia um painel para estudantes. A maioria dos colegas do programa da Demi estava lá, de pé ao lado dos painéis que explicavam seus trabalhos. Na verdade, apresentar o trabalho nessa conferência era considerado um requerimento para a bolsa de Demi, mas eu entrei com um pedido de exceção porque seu projeto principal, a conta da Papadakis, era grande e confidencial. Nenhum outro estudante ali estava gerenciando uma conta milionária. A diretoria da bolsa ficou feliz em permitir a exceção, praticamente babando com a possibilidade de, assim que pudessem usar a história de sucesso da Demi em seu folheto de propaganda. Mas, embora não fosse apresentar nada, ela insistiu em andar por todos os corredores e visitar todos os estandes. E como eu estava incapaz de me manter a menos de dois metros dela e não tinha nenhuma reunião antes das dez horas, eu a segui o tempo inteiro, contando painéis (576) e olhando para sua bunda (ajeitada, perfeita para um tapa, no momento vestindo lã negra). Ela mencionou no elevador que sua melhor amiga, Julia, era quem providenciava a maioria das roupas que eu amava/odiava. A seleção daquela manhã continha uma saia justa e uma blusa azul-marinho que agora estavam na minha lista negra. Tentei convencê-la de que precisávamos voltar ao meu quarto para pegar alguma coisa, mas ela apenas levantou uma sobrancelha e perguntou: – Pegar alguma coisa? Ou fazer alguma coisa? Eu a ignorei, mas agora eu queria ter admitido que precisava de mais uma rodada antes da conferência. Será que ela aceitaria? – Você teria voltado para o quarto? – perguntei em seu ouvido, enquanto ela lia cuidadosamente um trabalho de graduação sobre o reposicionamento da marca de uma empresa de telefonia celular. Pelo amor de Deus, os gráficos estavam colados numa cartolina. – Shh. – Demi, você não vai aprender nada com esse cartaz. Vamos tomar um café e talvez uma chupada no banheiro. – Seu pai me disse uma vez que é impossível prever onde você pode achar suas melhores ideias, e que você deve sempre ler tudo que puder. Além disso, esses são os trabalhos dos meus colegas. Esperei, arrumando a abotoadura da minha camisa, mas ela aparentemente não comentaria a última parte do meu convite. – Meu pai não sabe mais o que diz. Ela riu, é claro. Meu pai esteve em todas as listas dos melhores CEOs praticamente desde que nasceu. – Não precisa ser uma chupada. Eu poderia te comer contra a parede – eu sussurrei, limpando a garganta e olhando em volta para ter certeza de que ninguém iria me ouvir. – Ou eu poderia deitar você no chão, abrir suas pernas e fazer você gozar na minha língua. Ela estremeceu, sorriu para o estudante perto do cartaz ao lado e se aproximou para ler. O estudante apontou na minha direção. – Com licença, mas você não é Joe Jonas? Eu assenti e distraidamente apertei sua mão enquanto observava Demi se afastar. Aquele corredor estava praticamente vazio, com exceção dos estudantes ao lado de seus trabalhos. Até mesmo eles começaram a se dirigir para áreas mais interessantes, onde as grandes empresas – a maioria, patrocinadoras do evento – tinham preparado grandes estandes em uma tentativa de incrementar o painel dos estudantes. Vi Demi escrever algo em seu bloco de anotações: Reposicionamento para a Jenkins Financial?

Observei sua mão e depois seu rosto, que mostrava uma expressão pensativa. A conta da Jenkins Financial não fazia parte de seu portfólio. Nem era uma conta de que eu cuidava. Era uma conta pequena, geralmente organizada de qualquer jeito por um dos executivos juniores. Será que ela sabia as dificuldades por que essa conta estava passando com o nosso plano de marketing jurássico? Antes que eu pudesse perguntar, ela se virou e foi para a próxima exposição, e fiquei admirado ao vê-la trabalhando. Eu nunca me permitira observá-la tão abertamente – minha espionagem discreta mostrara que ela era brilhante e obstinada, mas eu nunca percebera o alcance de seu conhecimento da empresa. Eu queria elogiá-la de alguma maneira, mas as palavras se perderam em meu cérebro e fiquei estranhamente defensivo, como se um elogio fosse de alguma forma quebrar minha estratégia. – Sua caligrafia melhorou. Ela sorriu para mim, clicando a ponta da caneta. – Vá se ferrar. Meu pau acordou dentro da calça. – Você está me fazendo perder tempo aqui. – Então por que você não vai até a recepção puxar o saco de algum executivo? Eles servem café da manhã por lá. Tem até aqueles bolinhos de chocolate que você finge que não gosta. – Porque não é isso que estou com vontade de comer. Um pequeno sorriso surgiu no canto de sua boca. Ela encarou meu rosto enquanto outra estudante se apresentava para mim. – Eu sigo sua carreira desde sempre – disse a garota, quase sem fôlego. – Eu assisti sua apresentação aqui no ano passado. Eu sorri e apertei sua mão o mais breve que pude sem parecer rude. – Obrigado. Demi e eu andamos até o fim do corredor e eu agarrei seu cotovelo. – Eu tenho mais uma hora antes da minha reunião. Você tem alguma ideia do que está fazendo comigo? Finalmente, ela olhou para mim. Suas pupilas estavam tão grandes que seus olhos quase pareciam negros, e ela lambeu os lábios, deixando-os ainda mais sedutores. – Acho que você precisa me levar lá para cima e me mostrar.
Demi ainda estava procurando uma calcinha nova quando eu já estava cinco minutos atrasado para minha reunião. Seria um encontro com Ed Gugliotti, executivo de marketing de uma pequena empresa em Minneapolis. Nós usávamos a empresa de Ed para realizar trabalhos menores, e eu tinha um projeto significantemente maior que estava considerando passar para ele, para ver como eles se saíam. Quando fechei o zíper da calça, lembrei a mim mesmo que Ed também sempre chegava atrasado para tudo. Mas não daquela vez. Ele já estava me esperando em uma das salas de conferência do hotel, com dois assistentes ao seu lado, sorrindo abertamente para mim. Eu odeio me atrasar. – Ed – eu disse, apertando sua mão. Ele me apresentou para os assistentes, Daniel e Sam. Eles apertaram minha mão, mas, na vez de Sam, sua atenção estava voltada para a porta atrás de mim. Demi tinha acabado de entrar, com o cabelo solto desta vez. Estava extremamente linda, mas de um jeito muito profissional, miraculosamente escondendo o fato de que acabara de ter um imenso orgasmo em cima da mesa em seu quarto. Gugliotti e seus homens observaram em silêncio quando ela se aproximou, puxou uma cadeira e sentou ao meu lado, virando para mim e sorrindo. Seus lábios estavam vermelhos e inchados, e uma leve marca vermelha estava aparente em seu queixo. Havia sido minha barba mal feita que deixara a marca. Perfeita.
Limpei a garganta até que todos finalmente olharam para mim. – Vamos começar. Era uma reunião simples, o tipo de coisa que eu fazia milhares de vezes. Descrevi a conta em termos gerais e não confidenciais, e é claro que Gugliotti me disse que sua equipe conseguiria criar algo excelente. Após conhecer o homem que ele escolheu para a tarefa, eu concordei. Marcamos um novo encontro para o dia seguinte, quando eu apresentaria a conta com todos os detalhes e entregaria o trabalho oficialmente. A reunião acabou em menos de quinze minutos, deixando um bom tempo antes da próxima reunião, que seria às duas horas. Olhei para Demi e levantei uma sobrancelha, em um questionamento silencioso. – Almoço – ela disse, rindo. – Vamos comer alguma coisa.
O resto da tarde foi produtivo, mas eu estava completamente no piloto automático. Se alguém me perguntasse algum detalhe das reuniões, eu levaria um bom tempo para me lembrar de alguma coisa. Graças a Deus a Demi estava lá com sua obsessão por anotar tudo. Encontrei muitos colegas, apertei centenas de mãos, mas o único toque que eu lembrava era o dela. Ela me distraía o tempo todo, e o que mais me incomodou foi que ali era diferente do normal. Era trabalho, mas era um mundo completamente novo, onde podíamos fingir que as circunstâncias eram as que quiséssemos. O desejo por estar perto dela era ainda maior do que quando eu precisava manter distância. Olhando para o palestrante no pódio, tentei mais uma vez, sem sucesso, redirecionar meus pensamentos para algo produtivo. Eu estava sentado bem em frente ao palco onde eu mesmo fora palestrante no ano anterior, mas mesmo assim eu não conseguia me concentrar. Percebi de relance que ela estava se ajeitando e instintivamente virei o rosto para olhar diretamente para ela. Quando nossos olhos se encontraram, todos os outros sons se misturaram e flutuaram ao meu redor, mas sem entrar em minha consciência. Sem pensar, eu me inclinei na sua direção, ela se inclinou na minha, e um pequeno sorriso surgiu no canto de sua boca. Pensei sobre aquela manhã, e o quanto seu pânico tinha ficado aparente. Mas eu, ao contrário, sentira uma estranha calma, como se tudo que fizemos antes tivesse nos conduzido até aquele preciso momento, quando nós dois podíamos entender o quanto era fácil apenas ser. Um celular tocou em algum lugar atrás de mim e me tirou daquele transe, me fazendo desviar o olhar. Encostei rapidamente de volta na cadeira, e fiquei chocado ao perceber o quanto eu estava inclinado para frente. Olhei ao redor e congelei quando vi um par de olhos desconhecidos me olhando. Esse estranho não tinha ideia de quem éramos, ou que a Demi trabalhava para mim. Ele apenas passou os olhos em nós e rapidamente desviou o olhar. Mas, naquele momento, cada gota de culpa que eu estava reprimindo desabou sobre mim. Todos sabiam quem eu era, ninguém ali a conhecia, e se as pessoas soubessem que estávamos transando, o julgamento de uma comunidade inteira iria segui-la pelo resto de sua carreira. Uma rápida olhada para a Demi me mostrou que ela podia ver o pânico em meu rosto. Passei o resto da palestra olhando para a frente.
– Você está bem? – ela perguntou no elevador, quebrando o pesado silêncio que nos acompanhara por quatorze andares. – Sim, é só que... – esfreguei a nuca e evitei seus olhos. – Estou só pensando. – Vou sair com alguns amigos hoje à noite. – Parece uma boa ideia. – Você tem um jantar com Stevenson e Newberry às sete. Acho que eles vão te encontrar naquele restaurante japonês que você gosta na região do Gaslamp. – Eu sei – eu disse, relaxando quando caímos nos detalhes corriqueiros do trabalho. – Como é mesmo o nome da assistente? Ela sempre está junto com eles. – Andrew. Olhei para ela, confuso.
– Hum, eu não lembrava que ela era um homem. – Tonto, eles têm um novo assistente. Como diabos ela sabia disso? Ela sorriu. – Ele sentou do meu lado na palestra e perguntou se eu estaria no jantar hoje à noite. Eu me perguntei se aqueles olhos que me flagraram encarando a Demi eram dele, e se ele teria perguntado justamente por causa do jeito que eu a estava olhando. Eu gaguejei alguma coisa antes que ela me interrompesse. – Eu disse a ele que tinha outros planos. Meu desconforto retornou. Eu a queria comigo no resto da noite. Logo ela não seria mais minha estagiária. Será que então eu poderia ser seu amante? Será que eu ainda poderia ser seu chefe agora? – Você quer ir? Ela balançou a cabeça, olhando para as portas quando chegamos ao 30o andar. – Acho melhor eu continuar com meus planos.
A curta viagem de volta do restaurante foi quieta e solitária, com apenas meus pensamentos confusos como companhia. Caminhei pelo grande saguão até o elevador, e andei automaticamente até o quarto da Demi antes de lembrar que eu na verdade não estava hospedado lá. Não conseguia lembrar qual era o meu quarto e tentei três portas antes de desistir e voltar para a recepção. Quando subi de volta, percebi que meu quarto ficava logo ao lado do quarto dela. Os quartos eram idênticos, mas completamente diferentes de um jeito que só eu poderia saber. Esse chuveiro não tinha levado embora todas as nossas inibições na noite passada; não dormimos abraçados um ao outro nessa cama. Essas paredes não ouviram o som dela se acabando debaixo de mim. Essa mesa não estava quebrada por causa de uma rapidinha pela manhã. Chequei meu celular e vi que tinha duas chamadas perdidas do meu irmão. Ótimo. Normalmente, eu já teria conversado com meu pai e meu irmão várias vezes, contando sobre as reuniões e potenciais clientes. Mas, até agora, eu ainda não tinha falado com ninguém. Eu estivera com medo de que eles percebessem que naquela semana minha mente estava muito longe dos negócios. Já passava das onze horas e eu me perguntei se ela ainda estava com seus amigos ou se já teria voltado. Talvez ela estivesse deitada na cama acordada, obcecada com todas as coisas que eu também estava. Sem pensar, peguei o telefone e disquei o número do quarto dela. Após quatro chamadas, uma voz eletrônica atendeu. Desliguei e tentei o celular dela. Ela atendeu no primeiro toque. – Sr. Jonas? Eu estremeci. Ela estava com outros estudantes. É claro que não me chamaria de Joe agora. – Oi. Eu... hum, só queria ter certeza que você tem carona para voltar ao hotel. Ouvi sua risada do outro lado da linha, abafada pelo som de vozes e música alta. – Deve ter uns setenta táxis lá fora. Vou pegar um quando eu for embora. – E quando você vai embora? – Quando a Melissa terminar esse drinque e provavelmente mais um. E quando a Kim decidir que já dançou com todos os gostosões daqui. Então você pode me esperar em algum momento entre agora e as oito da manhã. – Você está tentando ser engraçadinha? – perguntei, sentindo um sorriso se abrir em meu rosto. – Sim. – Certo – eu disse, respirando pesadamente. – Apenas mande uma mensagem quando voltar em segurança. Ela ficou em silêncio por um instante e então disse: – Pode deixar.
Desliguei e deixei o telefone na cama ao meu lado, depois encarei o chão por provavelmente uma hora. Eu nem sabia o que fazer comigo mesmo. Finalmente, levantei e voltei para o saguão.
Eu ainda estava no saguão quando ela voltou às duas da manhã, com o rosto corado e um sorriso ao deixar o telefone cair dentro da bolsa. Meu celular começou a vibrar na minha mão e eu olhei a mensagem.
Voltei sã e salva.
Observei ela passar direto pela recepção e se aproximar de onde eu estava sentado, perto dos elevadores. Ela parou ao me ver com os olhos vermelhos e o terno todo amarrotado. Eu tinha certeza que meu cabelo parecia uma piada, porque eu estava realmente preocupado. De repente, eu não tinha ideia de por que estava esperando ela chegar como um marido ansioso. Só sabia que eu não queria ser a pessoa que decidiria que aquilo entre nós não funcionaria, porque, lá no fundo, eu queria que funcionasse. – Joe? – ela disse, olhando para sua amiga, que acenou e andou até o elevador. Eu não dava a mínima para o que a amiga estava pensando, mas podia sentir seu olhar sobre nós até ela entrar no elevador. Demi estava usando um vestido preto curto e salto alto que me fizeram ter vontade de requerer que aquele fosse o novo uniforme das estagiárias. Finas tiras se entrecruzavam desde as unhas dos pés pintadas de rosa até a canela. Eu queria tirar o vestido de seu corpo e foder ela no sofá, usando apenas aqueles saltos como apoio. – Oi – murmurei, admirado com os quilômetros de pernas nuas na minha frente. Ela se aproximou, parando apenas a alguns centímetros de mim. – O que você está fazendo aqui? – Esperando. Eu lutei para esconder o quanto ela mexia comigo. Naquele momento meus pensamentos mal se separavam da fantasia de agarrar aqueles cabelos, da maneira como meus polegares podiam cobrir completamente seus pequenos mamilos rosados, ou de como seu clitóris era a parte mais macia de qualquer corpo que eu já tocara. Eu queria saboreá-la dos pés à cabeça, dizendo todas as ideias que me ocorressem no processo. – Você está bêbado? Balancei a cabeça. Não da maneira como você pensa. – Uma pessoa me viu te olhando hoje à tarde. – Eu sei – ela esticou o braço e correu os dedos em meus cabelos. – Na palestra. Eu vi o jeito como você ficou. – Entrei em pânico. Demi não disse nada em resposta. Ela apenas riu, um som rouco e suave ao mesmo tempo. – Não estou pensando em como isso pode me afetar. Estou preocupado com como isso pode afetar você – eu disse. Ouvi sua respiração ficar mais pesada, senti seus dedos apertarem meu cabelo. Quando ergui o olhar para seu rosto, ela parecia aturdida. Como ela poderia não perceber o quanto eu estava envolvido por ela? Eu tinha certeza que ela conseguia ver sempre que eu olhava em seus olhos. Naquele momento, como sempre, eu queria agarrá-la por trás e lhe dar uns tapas quando ela fizesse algum som. Queria puxar seu cabelo quando eu gozasse. Morder o seio de novo. Correr meus dentes por suas costas. Beliscar a parte de trás de sua coxa e depois acariciá-la com o toque mais suave de todos. Mas eu também queria vê-la dormindo, e depois vê-la acordar e me ver, e queria medir seus sentimentos naquela primeira reação. Comecei a perceber que isso não era apenas sexo, e não era apenas uma coisa que eu precisava tirar do meu sistema. Sexo era apenas a via mais rápida para a posse intensa que eu desejava. Eu estava me apaixonando por ela, mais rápido e mais profundamente do que achava ser possível.
E eu estava apavorado por causa disso. Decidi falar a verdade. – Eu preciso de mais uma noite. Ela segurou a respiração e me encarou, e só então me ocorreu que ela pudesse estar sentindo algo muito diferente do que eu estava. – Sinta-se livre para dizer não. Eu só... – passei a mão no meu cabelo e olhei para seu rosto. – Eu só queria ficar de novo com você esta noite. – Você está muito guloso, não acha? – Você não tem ideia.
Em seu quarto, com seu corpo agarrado ao meu entre os lençóis e recebendo tudo que eu tinha para dar, o resto do mundo parecia não mais existir para mim. Seu cheiro e sons preenchiam meu cérebro, me fazendo estocar mais forte e selvagem. Ela estava ensopada em todas as partes: a pele no exterior e a carne no interior, macia e sugando-me mais fundo. Suas pernas envolveram minha cintura e ela me virou, rindo, cavalgando meu corpo com suas costas arqueadas e a cabeça jogada para trás. Sua pele brilhava e eu me sentei debaixo dela, precisando sentir o raspar de seus seios contra meu peito enquanto ela subia e descia. Empurrei-a para trás novamente, ficando mais uma vez por cima, agora com suas pernas apoiadas em meus ombros e sua boca tremendo enquanto ela tentava encontrar palavras. Suas unhas cravaram em minhas costas e eu gritei, pedindo por mais e querendo que ela me marcasse, que deixasse algo que permaneceria ali no dia seguinte. Ela gozou uma vez, e então gozou de novo, e mais uma vez, e eu puxei seus cabelos, que estavam completamente selvagens. Eu desabei sobre ela, pronunciando palavras incoerentes enquanto gozava, tentando dizer a ela aquilo que nós dois já sabíamos: que qualquer coisa que acontecesse fora daquele quarto era irrelevante.
 

Beautiful Bastard - Capitulo 14



 

Beautiful Bastard - Capitulo 14

A consciência bateu à porta da minha mente adormecida, mas tentei mantê-la longe. Eu não queria acordar. Estava contente, confortável e aquecida. Visões vagas do meu sonho passeavam atrás dos meus olhos fechados. O cobertor que eu abraçava era o mais quente e cheiroso com o qual já tivera o prazer de dormir – pois ele abraçava de volta. Algo quente se apertou contra mim. Meus olhos se abriram e focaram mechas de cabelos familiarmente desarrumados a apenas alguns centímetros do meu rosto. Centenas de lembranças surgiram naquele segundo, quando a realidade da noite passada desabou sobre meu cérebro confuso. Merda. Era real. Meu coração acelerou quando levantei a cabeça para ver aquele lindo homem abraçado ao meu corpo. Sua cabeça estava deitada em meu peito, sua boca perfeita, levemente aberta, deixando escapar lufadas de ar quente em meus seios nus. Seu longo corpo estava deitado ao meu lado, nossas pernas se entrelaçavam e seus braços fortes envolviam meu torso com força. Ele ficou. A intimidade de nossa posição me atingiu com tanta força que eu até perdi o fôlego. Ele não apenas ficara, ele se agarrara em mim. Tive dificuldade para voltar a respirar e para evitar entrar em pânico. Eu estava muito ciente de cada centímetro onde nossas peles se tocavam. Podia sentir a batida poderosa de seu coração contra meu peito. Seu pênis estava pressionado contra minha coxa, semiereto em seu sono. Meus dedos ardiam com a vontade de tocá-lo. Meus lábios desejavam beijar seus cabelos. Aquilo era muito para mim. Ele era muito. Algo mudara na noite anterior e eu não sabia se estava pronta para lidar com isso. Também não sabia o que era essa mudança, mas ela tinha acontecido. A cada movimento, a cada toque, a cada palavra e a cada beijo daquela noite, nós estivéramos juntos. Ninguém nunca me fez sentir assim, como se meu corpo fosse feito para encaixar em outro. Eu já estivera com outros homens, mas com ele eu sentia como se estivesse sendo arrastada por uma maré invisível, completamente incapaz de mudar a direção. Fechei os olhos, tentando dominar a crescente sensação de pânico. Eu não me arrependia do que acontecera. Tudo fora – como sempre – intenso e definitivamente o melhor sexo que já tivera. Eu apenas precisava de alguns minutos sozinha antes de poder encará-lo. Pousando uma mão em seus cabelos e a outra nas costas, eu consegui tirá-lo de cima de mim. Ele começou a se remexer e eu congelei. Abracei-o de volta e tentei impedi-lo de acordar. Ele murmurou meu nome antes de sua respiração voltar a se acalmar, então eu deslizei para fora. Fiquei observando-o dormir por um momento, sentindo meu pânico retroceder um pouco, e mais uma vez fiquei admirada por sua beleza. Em seu sono, sua expressão era tranquila e pacífica, muito diferente do que costumava mostrar na minha presença. Uma mecha de cabelo estava caída sobre sua testa e meus dedos desejavam arrumála. Cílios longos, rosto perfeito, lábios macios e um queixo coberto com uma barba por fazer. Meu Deus, ele é bonito.
Comecei a andar até o banheiro, mas vi de relance meu próprio reflexo no espelho do quarto e parei. Uau. A imagem de quem acabou de transar. Definitivamente, era assim que eu parecia. Eu me aproximei e examinei as pequenas marcas vermelhas espalhadas em meu pescoço, ombros, seios e barriga. Uma pequena mordida estava visível debaixo do meu seio esquerdo, além de uma vermelhidão em meu ombro. Olhando para baixo, corri os dedos pelas marcas vermelhas na parte interna das minhas coxas. Meus mamilos endureceram quando lembrei a sensação de sua barba mal feita raspando contra minha pele. Meu cabelo estava todo desgrenhado, e mordi o lábio quando lembrei de suas mãos mergulhadas nele. A maneira como ele me puxara primeiro para um beijo e depois para seu pau... Isso não está ajudando. Fui retirada dos meus pensamentos por uma voz grave e sonolenta. – Já está de pé e se estressando? Eu me virei e tive uma rápida visão de seu corpo nu quando ele se ajeitou nos lençóis antes de sentar e cobrir-se, deixando apenas o torso à mostra. Eu nunca me cansaria de ver – e sentir – seu peito largo e musculoso, seu abdômen malhado e aquele caminho da felicidade, que levava para o mais gloriosamente bem dotado homem que eu já conhecera. Quando meus olhos finalmente alcançaram seu rosto, eu franzi a testa ao ver seu sorriso maroto. – Peguei você olhando – ele murmurou, esfregando a mão no queixo. Eu não sabia se deveria sorrir ou revirar os olhos. Vê-lo daquele jeito, vulnerável e semiacordado, era desconcertante. Não tínhamos fechado as cortinas na véspera, e agora o sol da manhã emitia seus raios brilhantes contra o emaranhado de lençóis. Ele parecia tão diferente – ainda era meu chefe cretino, mas também parecia outra pessoa: um homem, em minha cama, parecendo pronto para a... quarta? Quinta rodada? Eu já tinha perdido a conta. Quando seus olhos percorreram cada parte do meu corpo, eu me lembrei que também estava completamente nua. Nesse momento, sua expressão parecia tão intensa quanto seus toques. Pensei brevemente que, se ele continuasse com aquele olhar, minha pele entraria em combustão. Será que aquilo poderia ter sobre mim o mesmo efeito que seu toque? Mudei minha expressão para esconder o fato de que eu estava mentalmente catalogando cada centímetro de sua pele, então me abaixei para pegar sua camiseta branca no chão. Ela ficara a noite inteira na frente do arcondicionado e por causa disso estava um pouco fria, mas, graças a Deus, estava praticamente seca. Quando passei o tecido de algodão pela minha cabeça, senti o perfume de ervas da pele dele, então reemergi e encontrei seu olhar sombrio colado em mim. Ele molhou seus lábios com a língua e grunhiu baixinho: – Venha aqui. Eu me aproximei da cama com a intenção de sentar ao seu lado, mas ele me puxou para o colo e disse: – Diga o que você está pensando. Ele queria que eu resumisse um milhão de pensamentos em uma única frase? Aquele homem estava maluco. Então, abri a boca e soltei o primeiro pensamento que surgiu: – Você disse que não esteve com mais ninguém desde que nós... ficamos juntos – encarei seu peito para evitar seus olhos. – Isso é verdade? Finalmente, olhei para cima. Ele assentiu e deslizou os dedos debaixo da camiseta, passando as mãos lentamente na minha cintura e barriga. – Por quê? – perguntei. Ele fechou os olhos e balançou a cabeça uma vez.
– Eu não quis ficar com mais ninguém. Eu não sabia como interpretar aquilo. Ele queria dizer que não encontrara ninguém que quisesse, mas que estava aberto a possibilidades? – Você sempre escolhe a monogamia quando está ficando com alguém? Ele deu de ombros. – Se essa for a expectativa. Joe beijou ao longo dos meus ombros, chegou ao peito e subiu pelo pescoço. Estiquei o braço e peguei uma garrafa de água no criado mudo, tomei um gole e ofereci. Ele tomou o resto da água em alguns longos goles. – Está com sede? – Sim. E com um pouco de fome também. – Não é surpresa, nós não comemos desde... – parei quando ele mexeu as sobrancelhas e sorriu com o canto da boca. Revirei os olhos, mas tive de fechá-los quando ele se aproximou e me beijou docemente nos lábios. – A expectativa aqui é a monogamia? – eu perguntei. – Despois do que aconteceu ontem à noite, acho que é você quem precisa me dizer. Eu não sabia como responder. Eu já não sabia se poderia ficar com ele dessa maneira, e sabia menos ainda no caso de monogamia. Pensar em como isso poderia funcionar fazia minha mente girar. Será que conseguiríamos ser... amigos? Será que ele diria “bom dia” de verdade? Será que ele se sentiria seguro para criticar meu trabalho? Ele esticou os dedos sobre minhas costas, pressionando meu corpo ao seu lado e me arrancando dos meus pensamentos. – Nunca tire essa camiseta – ele sussurrou. – Trato feito – eu me estiquei para trás, melhorando o acesso de sua boca ao meu pescoço. – Vou vestir isto e nada mais em nossa reunião mais tarde. Sua risada foi grave e divertida. – Nem pensar. – Que horas são? – eu perguntei, tentando enxergar o relógio atrás dele. – Dane-se o relógio – as pontas de seus dedos encontraram meus seios e ficaram brincando na pele macia da parte de baixo. No processo de me esticar, eu acabara expondo a pele dele um pouco acima do quadril. Mas o quê...? Aquilo era uma tatuagem? – Isso aqui é...? – eu mal podia formar as palavras. Afastando-o levemente, olhei em seus olhos antes de voltar a encarar a marca. Logo abaixo da cintura havia uma linha de tinta preta, palavras escritas naquilo que eu achava ser francês. Como diabos eu não tinha visto isso antes? Tentei lembrar de todas as vezes em que estivéramos juntos. Sempre fora de forma apressada, no escuro ou apenas seminus. – É uma tatuagem – ele disse, confuso, afastando-se um pouco e passando os dedos por minha barriga. – Eu sei que é uma tatuagem, mas... o que está escrito aí? – o sr. Eu-Não-Brinco-em-Serviço tem uma maldita tatuagem. Cai o outro pedaço do homem que eu achava conhecer. – Está escrito Je ne regrette rien. Meus olhos dispararam na direção de seu rosto, e meu sangue ferveu ao som de sua voz se dissolvendo em uma perfeita pronúncia do francês.
– O que você disse? Ele soltou um sorriso no canto da boca. – Je ne regrette rien – pronunciou as palavras lentamente, enfatizando cada sílaba. Era a coisa mais sexy que eu já tinha ouvido na vida. Em meio a tudo isso – a tatuagem e sua completa nudez –, eu achei que entraria em combustão espontânea. – Isso não é uma música? – Sim, é de uma música – ele assentiu, e riu um pouco. – Você pode achar que eu me arrependo daquela noite, bêbado em Paris, milhares de quilômetros distante de casa, sem um único amigo na cidade, quando decidi fazer uma tatuagem. Mas não, nem mesmo disso eu me arrependo. – Diga de novo – sussurrei. Ele se aproximou, encaixando os quadris ainda mais em meu corpo, sua respiração quente em meu ouvido, e sussurrou novamente. – Je ne regrette rien. Você entende? Assenti. – Diga mais alguma coisa. Eu respirava com dificuldade, meus mamilos sensíveis raspando contra o algodão da camiseta. Inclinando-se ligeiramente, ele beijou minha orelha e disse: – Je suis à toi – sua voz estava ainda mais grave e quase falhando enquanto seu pau se mantinha erguido para mim, então eu acabei com nossa agonia e mergulhei nele com um gemido, novamente amando a profundidade daquela posição. Ele sussurrou uma única e profana sílaba em francês de novo e de novo, encarando meu rosto. Em vez de segurar meus quadris, suas mãos agarraram a camiseta nos dois lados do meu corpo. Aquilo era tão fácil, tão natural entre nós, que de alguma forma aumentava uma intranquilidade que eu não conseguia afastar. Em vez de pensar nisso, eu me concentrei em seus grunhidos abafados na minha boca. Concentrei-me na maneira como ele de repente nos colocou sentados e chupou meus seios por cima da camiseta, expondo a pele rosada que havia sob o tecido. Eu me perdi na urgência de seus dedos em minhas coxas e cintura, sua testa pressionada na base do meu pescoço quando ele se aproximou do clímax. Eu me perdi na sensação de suas coxas embaixo de mim, seus quadris se movendo cada vez mais rápido e com mais força para acompanhar meus movimentos. Virando meu corpo, ele pousou a mão totalmente esticada sobre meu peito e seus quadris diminuíram a velocidade até parar. – Seu coração está acelerado. Diga o quanto você está gostando disso. Eu relaxei instintivamente ao olhar para seu sorriso convencido. Será que ele sabia que eu precisaria de ajuda para lembrar quem ele fora há menos de um dia? – Você está falando daquele jeito de novo. Pare com isso. Seu sorriso se alargou. – Você adora quando eu falo assim. Principalmente quando meu pau está dentro de você. Eu revirei os olhos. – O que foi que me denunciou? Os orgasmos? O jeito como eu imploro para você? Parabéns, você é praticamente um detetive. Ele piscou, puxando meu pé para cima do seu ombro e beijando meu calcanhar. – Você sempre foi desse jeito? – eu perguntei, puxando inutilmente seus quadris. Odiava admitir, mas queria que
ele continuasse mexendo. Quando ele parava, eu sentia a provocação, a ardência, a sensação de coisa incompleta. E quando se movia, eu apenas queria que o tempo parasse. – Eu tenho pena das mulheres cujos egos foram destroçados pelo caminho. Joe balançou a cabeça, inclinando-se sobre mim e se apoiando nas mãos. Graças aos céus, ele começou a se mover. Os quadris subiram, entrando profundamente em mim. Meus olhos se fecharam. Ele acertou o ponto perfeito de novo, de novo e de novo. – Olhe para mim – ele sussurrou. Olhei para cima, observei o suor em suas sobrancelhas e os lábios se separarem quando ele encarou minha boca. Os músculos dos ombros se apertavam com seus movimentos, seu torso brilhava com uma fina camada de suor. Pousei meu olhar onde ele se movia para dentro e para fora de mim. Não sei o que eu disse quando ele tirou quase tudo para fora e então enfiou com força de volta em mim, mas foi algum murmúrio sujo e instantaneamente esquecido enquanto ele estocava. – Você me faz sentir convencido. É o jeito como você reage que me faz sentir um maldito deus. Como você pode não enxergar isso? Eu não respondi e claramente ele não esperava que eu respondesse – seu olhar e os dedos de uma mão exploravam meu pescoço e seios. Ele encontrou um lugar especialmente sensível e eu ofeguei. – Parece que alguém te deu uma mordida aqui – ele disse, esfregando o polegar na marca de seus dentes. – Você gostou? Engoli em seco, juntando nossos corpos. – Sim. – Garota safada. Minhas mãos deslizaram por seus ombros e desceram até o peito, passaram pela barriga e pelos músculos dos quadris. Meu polegar acariciou sua tatuagem. – Eu gosto disso também. Seus movimentos se tornaram mais selvagens e violentos. – Oh, merda, Demi... eu não consigo... não vou aguentar mais. Ouvir sua voz tão desesperada e fora de controle apenas intensificou meu desejo por ele. Fechei os olhos, concentrando-me na deliciosa sensação que começava a se espalhar por meu corpo. Eu estava muito perto, quase lá. Abaixei a mão entre nós e meus dedos encontraram meu clitóris, que comecei a esfregar vagarosamente. Ele abaixou a cabeça, olhou para minha mão e praguejou. – Oh, merda – sua voz estava desesperada, sua respiração saía com dificuldade. – Vai, se toca, quero ver você se esfregando – suas palavras foram tudo o que eu precisava e, com uma última passada de dedos, senti o orgasmo me dominar. Gozei com força, apertando-o ao meu redor, as unhas da minha mão livre se enterrando em suas costas. Ele gritou, e seu corpo se descontrolou quando também gozou dentro de mim. Meu corpo todo tremeu nos momentos seguintes, mesmo quando o orgasmo se dissipou. Agarrei seu corpo quando ele parou, afundando em cima de mim. Ele beijou meu ombro e meu pescoço antes de plantar um único beijo em meus lábios. Nossos olhos se encontraram brevemente, e então ele rolou para o lado. – Meu Deus, garota – ele disse, exalando uma respiração pesada e forçando uma risada. – Você vai acabar me matando. Rolamos cada um para um lado, cabeça nos travesseiros, e quando nossos olhos se encontraram eu não pude desviar o olhar. Perdi qualquer esperança de que na próxima vez tudo seria menos poderoso, ou que nossa conexão de alguma maneira diminuísse se simplesmente transássemos até cansar. Aquela “trégua” não ajudara em
nada. Eu já queria me aproximar novamente, beijar a barba mal feita e puxá-lo de volta para mim. Enquanto o encarava, ficou claro para mim que iria doer bastante quando isto acabasse. O medo tomou conta do meu coração e o pânico da noite anterior retornou, trazendo um desconfortável silêncio. Eu me sentei, puxando os lençóis até meu queixo. – Oh, merda. A mão dele disparou e agarrou meu braço. – Demi, eu não posso... – Nós provavelmente precisamos nos arrumar – eu interrompi o que poderia ser o começo de um milhão de formas para partir meu coração. – Temos apresentações para ver em vinte minutos. Ele pareceu confuso por um momento antes de falar: – Eu não tenho nenhuma roupa limpa aqui. Eu nem sei onde fica o meu quarto. Senti meu rosto corar ao relembrar o quão rápido tudo acontecera na véspera. – Certo. Vou usar sua chave e trazer alguma coisa. Entrei no banheiro, tomei um banho rápido e enrolei uma toalha ao redor do meu corpo, pensando que deveria ter trazido um roupão do hotel. Respirei fundo, abri a porta e voltei para o quarto. Ele estava sentado na cama e seus olhos se ergueram para o meu rosto. – Eu só preciso... – fiz um gesto na direção da minha mala. Ele assentiu, mas continuou calado. Eu geralmente não sinto vergonha do meu corpo, mas ali, de pé usando apenas uma toalha e sabendo que ele me observava, eu me senti estranhamente tímida. Peguei algumas coisas e passei apressada por ele, parando apenas na segurança do banheiro. Eu me vesti mais rápido do que achava ser possível, decidindo prender o cabelo para trás e deixar o resto para depois. Peguei a chave sobre a pia, voltei para o quarto. Ele não saiu do lugar. Sentado na ponta da cama com os cotovelos apoiados nas coxas, parecia perdido em pensamentos. O que estaria pensando? Pela manhã toda eu estivera uma pilha de nervos, minhas emoções mudando ferozmente de um extremo a outro, mas ele parecia tão calmo. Tão seguro. Mas estava seguro do quê? O que teria decidido? – Você quer que eu traga alguma roupa em particular? Quando ele levantou a cabeça, parecia levemente surpreso, como se o pensamento não tivesse ocorrido em sua mente. – Hum... tenho apenas algumas reuniões esta tarde, certo? – eu assenti. – O que você escolher está bom. Demorei apenas um segundo para achar o quarto dele, que ficava logo ao lado do meu. Ótimo. Agora eu poderia ficar imaginando ele na cama logo atrás da minha parede. Suas malas já estavam ali e eu parei brevemente, percebendo que teria de mexer em suas coisas. Levantei a maior delas, coloquei-a na cama e abri o fecho. Seu perfume me envolveu e causou uma grande pontada de desejo em meu corpo. Comecei a procurar pelas roupas perfeitamente dobradas. Tudo que pertencia a ele era tão arrumado e organizado, e isso me fez imaginar como seria sua casa. Nunca pensara muito nisso, mas de repente me perguntei se algum dia eu a veria, se alguma vez eu estaria em sua cama. Parei quando percebi que eu queria conhecê-la. Será que ele gostaria de me ver lá? Desviei esses pensamentos e continuei procurando as roupas. Escolhi um terno Helmut Lang, camisa branca, gravata preta de seda, cueca, meia e sapato. Após guardar o resto de volta, juntei as roupas que ele usaria e comecei a voltar para meu quarto. Eu não conseguia parar de rir nervosamente quando entrei no corredor, balançando a cabeça por causa do absurdo da
situação. Felizmente, me recompus antes de abrir a porta. Então, dei dois passos dentro do quarto e congelei. Ele estava de pé em frente à janela aberta, coberto pela luz do sol. Cada linha escultural estava acentuada em perfeitos detalhes pelas sombras projetadas em seu corpo. Uma toalha estava indecentemente enrolada em sua cintura, deixando aparentes as palavras de sua tatuagem. – Viu alguma coisa de que gostou? Eu relutantemente voltei minha atenção para seu rosto. – Eu... Meus olhos baixaram mais uma vez para sua cintura, como se fossem atraídos por um imã. – Eu disse: você viu alguma coisa de que gostou? – ele atravessou o quarto, parando bem na minha frente. – Eu ouvi da primeira vez – eu disse, sentindo meu rosto corar. – E não, eu estava apenas perdida em pensamentos. – E o que exatamente você estava pensando? – ele esticou o braço, movendo uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. Apenas esse simples toque fez meu estômago revirar. – Que temos uma agenda para cumprir. Ele deu um passo em minha direção. – Por que eu não acredito em você? – Porque você é um egocêntrico? – eu disse, encarando-o de volta. Ele ergueu uma sobrancelha e ficou me observando por um momento antes de pegar suas roupas da minha mão e colocá-las em cima da cama. Antes que eu pudesse me mexer, ele tirou a toalha da cintura e a jogou para o lado. Meu Deus do céu. Se existisse no planeta um homem melhor que este, eu pagaria para vê-lo. Ele pegou sua cueca e começou a vesti-la, mas parou e voltou a me olhar. – Você não acabou de dizer que temos uma agenda para cumprir? – ele perguntou, olhando para mim como se estivesse se divertindo. – A não ser, é claro, que tenha visto alguma coisa de que gostou. Filho da... Apertei os olhos e me virei rapidamente, voltando ao banheiro para terminar de me arrumar. Enquanto secava os cabelos, eu não conseguia evitar a estranha sensação de que ele tentara dizer algo mais além de “olhe para meu corpo nu”. Antes mesmo de desembaralhar meus próprios sentimentos, eu já estava tentando adivinhar os dele. Estaria eu preocupada se, caso houvesse opção, ele escolheria continuar ali comigo? Quando saí do banheiro, ele já estava vestido e esperando, olhando para a grande janela. Ele se virou, andou até mim e colocou suas mãos quentes no meu rosto, encarando-me intensamente. – Eu preciso que você ouça uma coisa. Eu engoli em seco. – Certo. – Eu não quero sair por aquela porta e perder o que encontramos aqui neste quarto. Suas palavras simples me abalaram. Ele não estava se declarando, não estava prometendo nada, mas disse exatamente o que eu precisava ouvir. Talvez não soubéssemos o que era aquilo entre nós, mas não deixaríamos inacabado. Deixando escapar uma respiração trêmula, coloquei a mão sobre meu peito. – Eu também não, mas não quero que sua carreira acabe com a minha.
– Eu também não quero isso. Eu concordei, sentindo as palavras se emaranharem em meus pensamentos, e fui incapaz de pensar em algo articulado para acrescentar. – Certo – ele disse, me olhando de cima a baixo. – Então, vamos.
 

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